Dumping de aço chinês: impacto nas indústrias brasileiras e estratégias de hedge em CME

Dumping de aço chinês

O mercado global de aço atravessa uma das tempestades mais desafiadoras de sua história recente, com o dumping chinês criando ondas que chegam diretamente às costas da indústria brasileira.

Enquanto empresas nacionais lutam para manter sua competitividade diante de preços artificialmente baixos, uma ferramenta poderosa permanece subutilizada: as estratégias de hedge através da Chicago Mercantile Exchange (CME). Este artigo revela como transformar essa crise em oportunidade, apresentando táticas práticas que podem blindar seu negócio contra a volatilidade e garantir a sustentabilidade financeira em tempos turbulentos.

1. A Tempestade Perfeita no Mercado Global de Aço

O ano de 2025 começou com o mercado siderúrgico mundial enfrentando uma configuração que poucos analistas haviam previsto com tamanha intensidade. A convergência entre a superprodução chinesa, a desaceleração da demanda interna asiática e a necessidade de escoamento de excedentes criou o que especialistas chamam de "tempestade perfeita" para a indústria global do aço.

Você já parou para refletir sobre como decisões tomadas em Pequim podem impactar diretamente o orçamento da sua obra ou o resultado financeiro da sua empresa? Essa interconexão global não é apenas uma curiosidade acadêmica - é uma realidade que exige estratégia e preparação.

1.1. Contextualização do cenário atual do mercado siderúrgico mundial

A indústria siderúrgica global opera hoje sob pressão extrema. Dados da World Steel Association indicam que a capacidade instalada mundial supera em mais de 30% a demanda efetiva, criando um desequilíbrio estrutural que se manifesta através de práticas comerciais agressivas. A China, responsável por mais da metade da produção mundial de aço, enfrenta sua própria crise interna com o setor imobiliário em retração e projetos de infraestrutura em desaceleração.

Esta dinâmica força o país asiático a buscar mercados externos para escoar sua produção excedente, frequentemente a preços que não refletem os custos reais de produção. O resultado é uma distorção competitiva que afeta mercados regionais em todos os continentes.

1.2. Definição de dumping comercial e sua aplicação ao setor de aço

O dumping comercial caracteriza-se pela venda de produtos em mercados externos a preços inferiores aos praticados no mercado doméstico do país exportador, ou abaixo do custo de produção acrescido de margem de lucro razoável. No setor siderúrgico, essa prática torna-se particularmente nociva devido à natureza estratégica do aço como insumo básico para diversas cadeias produtivas.

A complexidade do dumping de aço reside no fato de que os custos de produção variam significativamente entre países, dependendo de fatores como disponibilidade de matérias-primas, custos energéticos, mão de obra e, crucialmente, subsídios governamentais.

1.3. A China como protagonista global na produção e exportação de aço

A ascensão da China como potência siderúrgica é um fenômeno relativamente recente na história mundial. Em 2000, o país respondia por aproximadamente 15% da produção global de aço. Hoje, essa participação supera os 55%, com uma capacidade instalada que excede 1,2 bilhão de toneladas anuais.

">Esta expansão exponencial foi impulsionada por um modelo de desenvolvimento econômico baseado em infraestrutura e urbanização acelerada. Contudo, com a maturação desses setores internos, a China se viu com uma capacidade produtiva que supera significativamente sua demanda doméstica.

1.4. Relevância do tema para a economia e indústria brasileira

Para o Brasil, o impacto do dumping chinês transcende a questão setorial, tornando-se uma preocupação macroeconômica. A indústria siderúrgica nacional emprega diretamente cerca de 110 mil pessoas e gera outros 500 mil empregos indiretos. Sua contribuição para o PIB industrial brasileiro é da ordem de 4%, sem contar os efeitos multiplicadores em setores como automotivo, construção civil e bens de capital.

2. O Fenômeno do Dumping de Aço Chinês: Anatomia de uma Estratégia Comercial

2.1. Conceito técnico de dumping e suas implicações legais internacionais

Segundo as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), o dumping é caracterizado quando o preço de exportação de um produto é inferior ao seu "valor normal" no mercado doméstico. Para produtos siderúrgicos, a determinação desse valor normal envolve análises complexas de custos de produção, incluindo matérias-primas, energia, mão de obra e depreciação de equipamentos.

As implicações legais do dumping permitem que países importadores apliquem direitos antidumping equivalentes à margem de dumping calculada, desde que comprovem dano à indústria nacional. No caso do aço, a margem de dumping pode variar significativamente conforme o produto, chegando a superar 100% em alguns casos extremos.

2.2. Histórico da superprodução chinesa de aço (2020-2024)

O período entre 2020 e 2024 marca uma fase crítica na evolução da capacidade siderúrgica chinesa. A pandemia de COVID-19 inicialmente reduziu a demanda global, mas os estímulos fiscais chineses mantiveram a produção em níveis elevados. Subsequentemente, a crise do setor imobiliário chinês, que consome aproximadamente 40% do aço nacional, criou um excedente estrutural que persiste até hoje.

Exportações de Aço da China

Dados oficiais indicam que as exportações chinesas de aço saltaram de 54 milhões de toneladas em 2020 para mais de 95 milhões de toneladas em 2024, um crescimento de 76% que pressionou mercados globais.

2.3. Fatores estruturais que impulsionam o excesso de capacidade na China

A supercapacidade chinesa resulta de uma confluência de fatores estruturais. O modelo de desenvolvimento baseado em metas de crescimento regional incentivou governos locais a apoiar projetos siderúrgicos como forma de gerar emprego e receita tributária. Adicionalmente, o setor bancário estatal forneceu financiamento abundante e barato para expansões de capacidade.

A disponibilidade de matérias-primas a custos competitivos, especialmente minério de ferro importado do Brasil e da Austrália, combinada com uma matriz energética baseada em carvão subsidiado, criou condições favoráveis para a expansão da capacidade produtiva além das necessidades de mercado.

2.4. Subsídios governamentais e políticas industriais chinesas

Os subsídios à indústria siderúrgica chinesa assumem múltiplas formas, desde financiamento direto até benefícios indiretos como energia subsidiada, terrenos cedidos a preços simbólicos e isenções fiscais. Estudos independentes estimam que estes subsídios podem representar entre 15% e 25% dos custos totais de produção, criando uma vantagem competitiva artificial significativa.

3. Impactos Diretos nas Indústrias Brasileiras

3.1. Panorama da siderurgia nacional: capacidade produtiva e importância econômica

O Brasil possui uma das indústrias siderúrgicas mais relevantes do mundo, com capacidade instalada de aproximadamente 50 milhões de toneladas anuais. O setor é dominado por grandes grupos como ArcelorMittal, Gerdau, Usiminas e CSN, que investiram bilhões em modernização tecnológica nas últimas décadas.

A localização estratégica próxima às fontes de minério de ferro de alta qualidade confere ao Brasil vantagens competitivas naturais. Contudo, custos elevados de energia elétrica, logística deficiente e carga tributária complexa limitam a competitividade frente a produtores subsidiados.

3.2. Setores mais vulneráveis ao aço chinês subsidiado

A construção civil brasileira, responsável por cerca de 40% do consumo nacional de aço, tem sido particularmente afetada pelo dumping chinês. Produtos como vergalhões, arames e estruturas metálicas leves enfrentam competição direta de importações a preços artificialmente baixos.

A indústria automotiva, embora menos exposta devido a especificações técnicas mais rigorosas, também sente pressão em componentes padronizados. O setor de bens de capital, incluindo fabricantes de equipamentos industriais, enfrenta desafios similares em estruturas metálicas e componentes siderúrgicos.

Cada setor possui particularidades na implementação de estratégias defensivas: enquanto a construção civil pode beneficiar-se de hedges de compra para projetos de longa duração, o setor automotivo requer estratégias mais sofisticadas devido à volatilidade de especificações técnicas.

3.3. Pressão sobre preços domésticos e compressão de margens

A entrada de aço chinês a preços subsidiados força uma corrida para baixo nos preços domésticos. Dados do Instituto Aço Brasil mostram que os preços médios do aço nacional caíram aproximadamente 18% entre 2023 e 2024, pressionando as margens operacionais das siderúrgicas brasileiras.

Esta compressão de margens limita a capacidade de investimento em modernização e pesquisa, criando um ciclo vicioso onde a indústria nacional perde competitividade progressivamente. Algumas usinas já operam próximas ao ponto de equilíbrio, sinalizando riscos de fechamento caso a situação persista.

3.4. Consequências para o emprego e investimentos no setor

O impacto no emprego já se manifesta através de programas de demissão voluntária e redução de jornadas de trabalho. Estimativas indicam que cerca de 15 mil postos de trabalho diretos foram perdidos no setor siderúrgico brasileiro entre 2023 e 2024.

Os investimentos em expansão de capacidade foram praticamente suspensos, com empresas priorizando projetos de eficiência operacional e redução de custos. Projetos de modernização tecnológica, essenciais para competitividade futura, foram adiados indefinidamente em várias usinas.

4. Efeitos Macroeconômicos e Cadeia Produtiva

4.1. Impacto na balança comercial brasileira

O dumping de aço chinês afeta negativamente a balança comercial brasileira através de dois mecanismos: aumento das importações de produtos siderúrgicos e redução das exportações nacionais. Em 2024, as importações de aço cresceram 34% em volume, enquanto as exportações brasileiras recuaram 12%.

Este desequilíbrio contribui para a deterioração do saldo comercial setorial, que passou de superavitário para deficitário pela primeira vez em uma década. O impacto fiscal é significativo, considerando que a indústria siderúrgica é uma das maiores contribuintes tributárias do setor industrial brasileiro.

4.2. Efeitos cascata em setores dependentes

A instabilidade no mercado de aço gera efeitos cascata em setores dependentes. Na construção civil, a volatilidade dos preços dificulta o planejamento de obras e a formação de preços contratuais. A indústria automotiva enfrenta incertezas no suprimento, especialmente para componentes específicos que requerem aços especiais.

O setor de bens de capital, crucial para a competitividade industrial brasileira, vê-se pressionado por custos instáveis e competição desleal em mercados de exportação, onde produtos chineses beneficiados por dumping conquistam participação crescente.

Impacto do Dumping por Setor no Brasil

5. Respostas Governamentais e Medidas de Defesa Comercial

5.1. Instrumentos antidumping disponíveis no Brasil

O Brasil dispõe de um arcabouço legal robusto para combater práticas de dumping, baseado nas normas da OMC. A Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) conduz investigações técnicas que podem resultar na aplicação de direitos antidumping por períodos de até cinco anos, renováveis mediante revisão.

O processo investigativo envolve análise detalhada de custos de produção, margens de dumping e comprovação de dano à indústria nacional. A complexidade técnica e a necessidade de cooperação internacional tornam essas investigações demoradas, frequentemente levando de 12 a 18 meses para conclusão.

5.2. Ações da CAMEX e órgãos reguladores brasileiros

A Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) tem intensificado suas ações contra o dumping de aço chinês, aprovando medidas antidumping para diversos produtos siderúrgicos. Entre 2023 e 2024, foram implementadas tarifas antidumping para vergalhões, fio-máquina e determinados tipos de chapas de aço.

As alíquotas aplicadas variam conforme o produto e o exportador, chegando a 25% para alguns casos específicos. Contudo, a eficácia dessas medidas é limitada pela capacidade de contorno através de triangulação comercial e modificações menores nos produtos.

5.3. Eficácia das medidas protecionistas adotadas

A eficácia das medidas antidumping tem sido parcial. Embora tenham proporcionado alívio temporário para produtos específicos, a amplitude da supercapacidade chinesa permite rápida adaptação através de mudanças de produtos e rotas comerciais.

A experiência internacional sugere que medidas unilaterais têm eficácia limitada contra dumping sistêmico, sendo necessária coordenação internacional para resultados duradouros. A União Europeia e os Estados Unidos têm buscado abordagens multilaterais, pressionando por reformas estruturais na indústria siderúrgica chinesa.

6. CME (Chicago Mercantile Exchange): Portal para Estratégias de Hedge

6.1. Apresentação da CME e sua relevância no mercado de commodities

A Chicago Mercantile Exchange (CME Group) representa o maior mercado de derivativos do mundo, negociando mais de 3 bilhões de contratos anuais. Sua importância para o mercado de commodities transcende a simples negociação, atuando como mecanismo de descoberta de preços e gestão de riscos para indústrias globais.

Para o setor siderúrgico, a CME oferece contratos futuros que permitem fixar preços futuros, proporcionando previsibilidade em um ambiente de alta volatilidade. A transparência e liquidez da bolsa americana tornam-na uma referência global para estratégias de hedge em commodities metálicas.

6.2. Contratos futuros de aço disponíveis na bolsa americana

A CME oferece contratos futuros para dois tipos principais de aço: Hot-Rolled Coil (HRC) e Rebar (vergalhão). O contrato de HRC, com especificações técnicas rigorosas, serve como benchmark para aços planos, enquanto o contrato de Rebar atende ao mercado de aços longos para construção.

Cada contrato representa 20 toneladas métricas de aço, com cotação em dólares americanos por tonelada. Os vencimentos disponíveis estendem-se por até 18 meses, permitindo estratégias de hedge de médio prazo alinhadas com ciclos de produção e vendas.

6.3. Especificações técnicas dos contratos (HRC, Rebar)

O contrato futuro de HRC na CME especifica aço laminado a quente com espessura entre 1,5mm e 12,7mm, largura mínima de 600mm e qualidade ASTM A1011. A entrega física pode ocorrer em pontos específicos nos Estados Unidos, embora a maioria dos contratos seja liquidada financeiramente.

Especificações dos Contratos de Aço na CME

O contrato de Rebar especifica vergalhões com diâmetro entre 10mm e 57mm, conformes às normas ASTM A615. A liquidez desses contratos varia conforme a sazonalidade da construção americana, sendo tipicamente maior durante os meses de primavera e verão.

6.4. Liquidez e acessibilidade para empresas brasileiras

A liquidez dos contratos de aço na CME tem crescido consistentemente, com volume diário médio superior a 1.000 contratos para HRC. Esta liquidez é fundamental para execução eficiente de estratégias de hedge, permitindo entrada e saída de posições sem impacto significativo nos preços.

Empresas brasileiras podem acessar a CME através de corretoras internacionais ou filiais brasileiras de corretoras americanas. Os requisitos incluem conta em dólar americano, comprovação de capacidade financeira e, dependendo do porte da operação, aprovação pelo Banco Central para operações em derivativos no exterior.

7. Estratégias de Hedge para Proteção contra Volatilidade do Aço

7.1. Fundamentos do hedge de commodities

O hedge de commodities funciona como um seguro contra flutuações adversas de preços, permitindo que empresas fixem custos ou receitas futuras. Para o aço, esta ferramenta torna-se especialmente valiosa considerando a volatilidade elevada causada pelo dumping chinês e instabilidades geopolíticas.

O princípio básico reside na correlação inversa entre posições no mercado físico e no mercado futuro. Quando uma empresa possui estoque de aço (posição comprada no físico), pode vender contratos futuros (posição vendida no futuro) para se proteger contra quedas de preços.

7.2. Hedge de compra (Long Hedge) para consumidores de aço

Empresas consumidoras de aço, como construtoras e fabricantes de bens de capital, podem utilizar o Long Hedge comprando contratos futuros para fixar preços de aquisição. Esta estratégia protege contra aumentos inesperados nos custos de matéria-prima, garantindo previsibilidade orçamentária.

Exemplo Prático Detalhado:

Considere a Construtora ABC, uma empresa de médio porte que necessitará de 200 toneladas de vergalhão em seis meses para um projeto habitacional. Com o vergalhão cotado a US$ 580/ton na CME e o dólar a R$ 5,20, o custo seria R$ 603.200.

A empresa compraria 10 contratos futuros de Rebar (10 x 20 toneladas = 200 toneladas) a US$ 580. Os custos operacionais incluem:

  • Margem inicial: US$ 2.000 por contrato = US$ 20.000 total
  • Taxa de corretagem: US$ 4 por contrato = US$ 40 total
  • Conta em dólar: mín. US$ 50.000

Se os preços subirem para US$ 620/ton (alta de US$ 40), os ganhos nos futuros (US$ 8.000) compensarão o maior custo de aquisição no mercado físico.

7.3. Hedge de venda (Short Hedge) para produtores siderúrgicos

Siderúrgicas podem implementar Short Hedge vendendo contratos futuros correspondentes à sua produção futura. Esta estratégia fixa preços de venda, protegendo receitas contra quedas causadas por dumping ou outras pressões de mercado.

Uma usina que produzirá 1.000 toneladas de aço laminado em três meses pode vender 50 contratos futuros de HRC. Se os preços caírem devido ao dumping chinês, as perdas na venda física serão compensadas pelos ganhos na posição vendida em futuros.

7.4. Estratégias combinadas e gestão de risco de base

Estratégias mais sofisticadas combinam diferentes posições para otimizar a proteção. O risco de base - diferença entre preços físicos locais e futuros da CME - deve ser gerenciado através de análise histórica de correlações e ajustes de hedge ratio.

Empresas brasileiras enfrentam risco de base adicional devido a diferenças cambiais e especificações técnicas. A gestão eficaz requer monitoramento constante da relação entre preços domésticos e contratos da CME, ajustando posições conforme necessário.

8. Considerações Operacionais e Regulatórias

8.1. Custos de implementação e manutenção do hedge por porte empresarial

Empresas de Grande Porte (acima de R$ 500 milhões de patrimônio):

  • Investimento inicial em sistemas: R$ 200.000-500.000
  • Equipe especializada: R$ 40.000-80.000/mês
  • Custos operacionais anuais: 0,1-0,3% do volume hedgeado

Empresas de Médio Porte (R$ 50-500 milhões de patrimônio):

  • Sistemas básicos: R$ 50.000-150.000
  • Consultoria externa: R$ 15.000-30.000/mês
  • Custos operacionais anuais: 0,3-0,8% do volume hedgeado

Pequenas Empresas (abaixo de R$ 50 milhões):

  • Terceirização via fundos especializados: taxa de 1-2% ao ano
  • Consórcios setoriais: divisão de custos fixos
  • Limitações regulatórias podem exigir parceria com empresas maiores

8.2. Aspectos regulatórios para empresas brasileiras e limitações específicas

Operações de hedge em mercados internacionais requerem registro no Banco Central (RDE-ROF) para empresas com patrimônio líquido superior a US$ 100 milhões. Empresas menores devem observar limites específicos para operações no exterior, tipicamente limitadas a 30% do patrimônio líquido.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige políticas de gestão de risco documentadas e aprovação pelo conselho de administração para operações com derivativos. Controles internos adequados são essenciais para conformidade regulatória.

Principais Limitações para PMEs:

  • Requisitos mínimos de capital para abertura de conta em corretoras internacionais
  • Complexidade da documentação para aprovação do Banco Central
  • Necessidade de demonstrar expertise em gestão de risco
  • Custos proporcionalmente elevados para operações menores

8.3. Gestão do risco cambial e correlações

O hedge de aço para empresas brasileiras envolve exposição cambial adicional, já que os contratos da CME são denominados em dólares. Esta exposição deve ser considerada na estratégia global de hedge, podendo requerer proteção cambial separada.

Análises históricas mostram correlação de 0,65-0,85 entre preços de aço no Brasil e contratos da CME, variando conforme especificações do produto e condições macroeconômicas. O monitoramento contínuo dessa correlação é essencial para eficácia das estratégias.

9. Perspectivas Futuras e Cenários para 2025

9.1. Tendências globais na produção e consumo de aço

O mercado global de aço deve permanecer desafiador em 2025, com a supercapacidade chinesa persistindo apesar de esforços governamentais para reduzi-la. O crescimento da demanda em economias emergentes pode absorver parte do excesso, mas insuficiente para equilibrar completamente o mercado.

A transição energética global criará demanda por aços especiais para energia renovável, representando oportunidade para produtores tecnologicamente avançados. Contudo, o aço commodity continuará pressionado por excesso de oferta.

9.2. Cenários para a siderurgia brasileira no médio prazo

O cenário mais provável para a siderurgia brasileira envolve consolidação setorial, com empresas menores sendo adquiridas ou fechando operações. Investimentos em eficiência operacional e produtos de maior valor agregado serão essenciais para sobrevivência.

O governo brasileiro provavelmente intensificará medidas de defesa comercial, mas a eficácia limitada dessas ações requer que empresas desenvolvam estratégias próprias de proteção, incluindo hedge de preços.

10. Conclusão: Navegando em Águas Turbulentas com Sabedoria Estratégica

10.1. Síntese dos principais desafios identificados

O dumping de aço chinês representa um desafio estrutural que transcende flutuações cíclicas normais de mercado. Como nos ensina a filosofia estoica, devemos distinguir entre aquilo que podemos controlar e aquilo que está além de nosso alcance. Não controlamos as políticas industriais chinesas ou a supercapacidade global, mas podemos controlar nossas respostas e estratégias defensivas.

A amplitude da supercapacidade chinesa, combinada com subsídios governamentais persistentes, cria condições de competição desleal que medidas tradicionais de defesa comercial não conseguem neutralizar completamente. Para a indústria brasileira, os desafios incluem pressão sobre preços, compressão de margens e riscos de desindustrialização.

10.2. O hedge como ferramenta de resiliência financeira

As estratégias de hedge através da CME emergem como ferramenta indispensável para empresas brasileiras navegarem este ambiente desafiador. Ao permitir a fixação de preços futuros, o hedge proporciona estabilidade financeira e previsibilidade operacional essenciais para planejamento empresarial.

A proteção contra volatilidade de preços não elimina os desafios estruturais do dumping, mas cria condições para que empresas mantenham operações sustentáveis enquanto trabalham por soluções de longo prazo. Esta estabilidade pode financiar os investimentos em inovação e eficiência necessários para competitividade futura.

10.3. Recomendações estratégicas por segmento

Para Siderúrgicas:

  • Implementar hedge de venda para estabilizar receitas
  • Diversificar para produtos de maior valor agregado
  • Investir em eficiência energética e tecnológica

Para Consumidores de Aço:

  • Utilizar hedge de compra para previsibilidade de custos
  • Desenvolver parcerias estratégicas com fornecedores
  • Explorar oportunidades de integração vertical

Para Pequenas e Médias Empresas:

  • Considerar consórcios para diluir custos de hedge
  • Buscar terceirização especializada em gestão de risco
  • Formar alianças setoriais para maior poder de negociação

10.4. A virtude da preparação em tempos incertos

A sabedoria antiga nos ensina que a preparação adequada é nossa melhor defesa contra as adversidades. No contexto atual do mercado de aço, esta preparação inclui não apenas compreender os desafios, mas desenvolver competências práticas para enfrentá-los.

A indústria siderúrgica brasileira possui fundamentos sólidos para recuperação: proximidade com matérias-primas de qualidade, know-how tecnológico acumulado e mercado doméstico robusto. O que falta é a disciplina estratégica para implementar ferramentas de proteção disponíveis.

O sucesso não dependerá apenas de medidas governamentais ou mudanças nas políticas chinesas - fatores fora de nosso controle. Dependerá da capacidade de empresas brasileiras adotarem estratégias defensivas inteligentes, investirem em inovação contínua e manterem foco no longo prazo, mesmo diante de pressões imediatas.

As estratégias de hedge na CME representam uma peça fundamental deste quebra-cabeça, oferecendo a estabilidade necessária para que empresas brasileiras não apenas sobrevivam, mas prosperem em um mercado global cada vez mais desafiador. A verdadeira riqueza empresarial reside não na ausência de desafios, mas na capacidade de transformá-los em oportunidades de fortalecimento e crescimento sustentável.

11. Referências

  • Instituto Aço Brasil. Anuário Estatístico da Siderurgia Brasileira 2024. Disponível aqui
  • World Steel Association. World Steel in Figures 2024. Disponível aqui
  • Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Estatísticas de Comércio Exterior - Produtos Siderúrgicos. Disponível aqui
  • Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). Resoluções e Circulares sobre Medidas Antidumping. Disponível aqui
  • Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). Investigações de Defesa Comercial em Andamento. Disponível aqui
  • Banco Central do Brasil. Regulamentação sobre Operações com Derivativos no Exterior. Disponível aqui
  • Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Instrução CVM nº 475/2008 - Ofertas Públicas de Valores Mobiliários Distribuídas com Esforços Restritos. Disponível aqui
  • CME Group. Hot-Rolled Coil Steel Futures Contract Specifications. Disponível aqui
  • CME Group. Steel Rebar Futures Contract Specifications. Disponível aqui
  • Organização Mundial do Comércio (OMC). Acordo Antidumping - Artigo VI do GATT 1994. Disponível aqui
  • Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conjuntura Econômica - Análise Setorial Siderurgia. Disponível aqui
  • Confederação Nacional da Indústria (CNI). Sondagem Industrial - Setor Siderúrgico. Disponível aqui
  • HULL, John C. Opções, Futuros e Outros Derivativos. 10ª edição. Porto Alegre: Bookman, 2016. Disponível aqui
  • BESSADA, Octavio. O Mercado de Derivativos Financeiros. 1ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2000. Disponível aqui
  • Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Políticas de Defesa Comercial: Panorama Mundial e Brasileiro. Disponível aqui
  • Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Estudo Prospectivo Siderurgia. Disponível aqui
  • Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Decomtec - Departamento de Competitividade e Tecnologia - Siderurgia. Disponível aqui
  • Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). China e Brasil: Comércio e Investimentos Bilaterais. Disponível aqui
  • Valor Econômico. Anuário da Siderurgia Brasileira 2024. Disponível aqui
  • SINFERBASE - Sindicato Nacional da Indústria de Ferro-Ligas e de Silício Metálico. Estatísticas do Setor de Ferro-Ligas. Disponível aqui


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